Solidariedade aos pedidos para que a vaga decorrente do falecimento da professora Jurema José de Oliveira seja rediscutida

Recentemente, por diversos meios, os integrantes do grupo de pesquisa Literatura e Educação, sediado na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), tomamos conhecimento da decisão do Departamento de Línguas e Letras (DLL), de nossa instituição, de ceder a vaga decorrente do falecimento da professora Jurema José de Oliveira, em outubro deste ano (2022), para a área de língua francesa. A professora Jurema, que ingressou nessa instituição na área de Teoria da Literatura e Literaturas em Língua Portuguesa, era a única mulher negra daquele departamento, e ministrava aulas de literaturas africanas de língua portuguesa e literatura afro-brasileira, tornando-se referência nessa área. Sua trajetória acadêmica é testemunha de uma dedicação intensa e densa: publicação de livros, artigos, obtenção de financiamentos em inúmeros editais públicos de pesquisa, realização de cursos de extensão, orientações de pesquisas em nível de pós-graduação, organização de eventos e coordenação do Núcleo de Estudos e Pesquisas Africanidades e Brasilidades (Nafricab/Ufes) são exemplos do envolvimento da professora com a pauta antirracista e com a materialização da Lei 11.645/2008 na Ufes, trabalho que se desdobra na formação de inúmeros estudantes de graduação, mestrado e doutorado que, por sua vez, atuam e atuarão em diferentes níveis e modalidades de ensino e pesquisa.

O debate intenso gerado pela transferência da vaga para a área de língua francesa, em recente reunião do DLL/Ufes, surge, também, em um contexto de anos de asfixia das universidades públicas no país, quer pela falta de investimentos, quer pela escassez de concursos públicos para a carreira do magistério. Mesmo assim, entendemos que em um país constituído sobre bases e práticas profundamente racistas, em um país cujas vidas negras são asfixiadas em porta-malas de carro, são alvos de políticas de extermínio, de perseguição, são minoria na docência universitária, o caminho iniciado pela professora Jurema poderia ter centralidade no debate - e não apenas poderia, como deveria. Não há aqui nenhuma minimização da importância do atendimento de outras áreas e subáreas de pesquisa, nem tampouco desrespeito à legítima autonomia de todo e qualquer departamento em tomar suas decisões, apenas uma evidenciação de que a trajetória política e profissional da professora Jurema tem um simbolismo tão imenso e uma repercussão social tão gigantesca, na Ufes e fora dela, especialmente para a causa antirracista, que desconsiderá-la pode levar a decisões precipitadas e talvez equivocadas.

A vida da professora Jurema Oliveira importou e seu legado importa, é necessário e precisa continuar. Como grupo, atendendo àquilo que Conceição Evaristo tão bem já nos sussurrou, “a gente combinamos de não morrer”, nos manifestamos publicamente a favor de que o DLL/Ufes reconsidere a possibilidade de destinação da vaga da professora Jurema à área das Literaturas Africanas e Afro-Brasileiras.

Jurema Oliveira, Presente!

Vitória, 16 de novembro de 2022.

Grupo de Estudos e Pesquisas “Literatura e Educação”.

 

 

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